Para a História

Creio que alguns portugueses não entenderam o espírito satírico da canção, é um facto. Creio que outros tantos não entenderam o verdadeiro significado do país ter saído à rua, no dia 12 de Março, algo que ficará para a História de Portugal, tentam minimizá-lo afirmando que os portugueses saíram de casa ou não foram ao Shopping, agindo como cãezinhos amestrados, manipulados por uma comunicação social tendenciosa. 

A mim sempre me fascinou a História, como disciplina que analisa os factos ocorridos, com rigor e com isenção. E é por isso que é fundamental estudá-la, tal como a Filosofia, para desenvolvermos um espírito crítico, para pensarmos, porque na sociedade contemporânea somos, constantemente, bombardeados com informação, e às vezes torna-se difícil darmo-nos ao trabalho de pensar.

Choca-me de sobremaneira o facto de os que encontraram alguma estabilidade na vida venham de forma irónica hastear a bandeira do “orgulhosamente explorado”, e o do “os meus pais, avós também o foram” por isso tu, que vais a concertos, podes ir para os copos, estudaste, não tens qualquer direito de te pronunciares, contra esta perversão, que 400 mil portugueses que saíram à rua, porventura, sentem na pele, sejam eles jovens, adultos, velhos. Bem até porque isto está mal, vai continuar.

O que eu não sabia é que tinha que ter uma vida espartana para me poder pronunciar contra a política laboral existente.

Isto para dizer que o ensino de História torna-se fundamental, quando percebemos que existiram um conjunto de pessoas, no passado, que se sublevaram contra a monarquia a favor de um estado laico, contra a ditadura bafienta de Salazar, e que não nos podemos cingir ao discurso barato: “epá tu vais a concertos, bebes cerveja, podes ir à praia e à internet. Está mas é calado e vai ser explorado”.

No dia 11 de Março ficou claro que não existe uma geração à rasca, mas sim várias. E sim este dia ficará, indubitavelmente, para a História, quer queiramos ou não.