quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Discurso na 1ª pessoa à blog rosa –snobish-chic(o-esperto)

Licenciei-me em 2006, ainda não tinha estalado esta crise tremenda, por a qual passamos agora de uma forma mais violenta! Os anos da faculdade foram aproveitados ao máximo, sobretudo no que toca a obter experiência, nas férias de Verão, enquanto alguns estavam na praia, eu e muitos outros colegas estávamos a fazer trabalho voluntariado..leia-se trabalho  não pago!
Não tenho nada contra o voluntariado, é uma forma de enriquecermos o nosso curiculum, para na altura de acabarmos a licenciatura nos aventurarmos no mercado de trabalho, com as noções básicas práticas, que necessitamos. Foram assim as minhas férias de Verão, dedicadas 50% ao voluntariado, em vários pontos do país, 50% a trabalhar para ajudar a minha família.
Na minha perspectiva essas férias de Verão dedicadas ao Voluntariado foram dos melhores tempos de estudante.
Fora de aulas procurava sempre estar em congressos, workshops, de forma a saber mais, ter mais conhecimentos. O conhecimento é ambição.
Quando terminei a licenciatura consegui trabalho, a recibos verdes. Ao mesmo tempo decidi investir mais um ano numa Pós-graduação, desta vez numa área, quase radicalmente oposta à minha,  sem a certeza que isso me iria dar alguma projecção profissional no futuro, mas com 100% de dedicação e empenho, com constantes deslocações a Lisboa, para assistir às aulas de 15 em 15 dias, sextas e sábados, das 9h às 18h da tarde.
Nesta área, diferente da área da minha licenciatura, também procurei assistir a todos os eventos relacionados com ela, foram congressos, workshops. E também voluntariado..apesar de trabalhar, sacrifiquei dias de trabalho, leia-se dinheiro para investir mais uma vez no meu curriculum ou em mim!
Após a Pós-graduação, decidi arriscar ainda mais e num ano fui para fora, fazer um mestrado, numa área de especialização que não existe em Portugal. Sem certezas, mas com ambição.
Foi lá que conheci a cultura do Mérito, em que o plágio é punido, em que se respeitam os alunos e os alunos respeitam os professores, não necessitando de adicionar o DR. Lá não se criticam as pessoas por quererem saber mais, estimula-se o espírito crítico. Paguei um pouco mais do que se paga cá por um mestrado, mas tive direito a usar recursos da Universidade, tive todo o apoio que necessitava, podia usufruir de uma biblioteca 24 por dia.
Concluo o mestrado, volto a Portugal e volto aos recibos verdes..sucede-se um estágio profissional, 12 meses de dedicação. 12 meses sem um final feliz, sem um subsidio, mas com mais conhecimentos, com experiência!
Tenho a possibilidade de poder transmitir alguns dos conhecimentos obtidos no estrangeiro, numa faculdade portuguesa. Algo que só me foi possibilitado, através de um contacto, não tenhamos ilusões! Há que assumir que em Portugal pouco ou nada se consegue, sem o almejado contacto, que nos pode abrir alguma porta.  
Apesar disto acredito que o meu curriculum e neste caso em concreto, também tem peso.
Neste momento, conheço a face do desemprego, continuo a enviar Cvs, para todos os tipos de trabalho, não, não procuro só o STATUS QUO, procuro um ordenado ao fim do mês, para pagar a renda, as contas.
Contudo, não acredito que devemos continuar nesta lógica insustentável do trabalho voluntariado, pós curso, cada caso é um caso, mas as empresas portuguesas abusam da nossa boa vontade, reduzindo custos!
Acredito que devemos recusar estágios não remunerados pós licenciaturas, simplesmente, porque isso mina o nosso mercado laboral, mergulhado na precariedade.
Acredito, mesmo após ter feito um estágio pago pelo estado, que isto é só uma forma de colmatar as necessidades da Administração Pública, por si só caótica.
Acredito, que devemos lutar pelos nossos direitos, pela nossa dignidade profissional e intelectual.
Recuso esta ideia de que somos todos uns putos mimados, que não estamos dispostos a fazer sacrifícios por uma carreira, por um salário, até porque as estatísticas mostram, precisamente, o contrário. Se assim fosse, não existiria tanta precariedade, porque as empresas se viriam forçadas a dar condições de trabalho, a quem trabalha.
Quero continuar a investir na minha formação.
Se me arrependo das minhas escolhas académico-profissionais? Não! Se me arrependo de ter voltado para Portugal? Sem dúvida, mas quero fazer parte de uma Revolução!
Acredito em mim e na minha geração!

P.S: Epá esqueci-me de mencionar que andei sempre em Universidades Públicas! Shame on me..

Sem comentários:

Enviar um comentário

Opiniões Inexperientes